A Abruem realizou durante esta semana, dias 25 e 26 de novembro, Seminário para abordar o tema "Desafios do Ensino Remoto Emergencial na Educação Superior". O evento contou com a participação de reitores, pró-reitores e representantes de universidades de todo o Brasil.
Em sua fala de encerramento, o presidente da Abruem, Rodrigo Zanin, agradeceu a todas as universidades participantes e a todos os que colaboraram para a realização do evento, seja a equipe técnica da Abruem, os colaboradores das universidades, os palestrantes ou os reitores que coordenaram e presidiram os trabalhos. Ele explicou que existiam dúvidas e inseguranças de como a Associação realizaria um evento de forma remota, mas foi preciso dar um passo na direção da realização do Seminário.
" O evento foi muito produtivo, avançamos bastante em diversas discussões e o resultados dos trabalhos das Câmaras foi fantástico", destacou.
Para o vice-presidente da Abruem, Pedro Falcão, os sentimentos ao fim do Seminário são de alegria e gratidão. E ele trouxe uma boa notícia: em reunião na manhã desta quinta-feira, 26, com a Rede Nacional de Pesquisa (RNP) foi sinalizado que em 2021 as universidades estaduais e municipais terão liberado o mesmo pacote de dados que é liberado para as universidades federais.
Extensão
A tarde do último dia de evento teve início com as apresentações da Câmara de Extensão da Abruem que abordaram a temática: "A extensão universitária em tempo de pandemia".
Em sua fala, a presidente da Câmara, Nara Lúcia Perondi, destacou a importância da extensão universitária diante do contexto atual e explicou que em muitas experiências, os alunos tiveram a chance real de serem protagonistas da sua própria formação profissional, com o respaldo de um olhar mais social, que eles mesmos puderam vivenciar.
Em seguida, a secretária da Câmara, professora Letícia Maria da Costa, apresentou os resultados preliminares de pesquisa realizada com as universidades afiliadas à Abruem. A pesquisa levantou dados relevantes sobre a atuação da extensão desenvolvida neste momento de pandemia, levando em conta a participação dos docentes com suas ações de extensão, a atuação dos estudantes e o atendimento da demanda da sociedade.
A pesquisa levantou dados como as atividades de extensão que estavam sendo realizadas, tipo de interação com a sociedade, área de atuação, principais ações, o estudante como protagonista da ação e se a IES recebeu recursos adicionais para o desenvolvimento dos trabalhos.
Segundo os dados preliminares, 53% das ações foram por meio de projetos e 23% por meio de eventos. Em se tratando de área de atuação, a maior foi a da Saúde, com 42% das ações, seguida por Educação, com 26%. O tipo de interação foi 81% remota e 13% híbrida.
Cerca de 82% das ações extensionistas tiveram os alunos como protagonistas e apenas 9% delas receberam aporte adicional para a sua realização. De acordo com a professora, a pesquisa permitiu um olhar quantitativo para as ações e, posteriormente, após o início de 2021, será qualitativa.
Durante o evento, a professora ainda apresentou as ações da Universidade de Taubaté, da qual é pró-reitora. "Na Unitau a Extensão foi o que facilitou a transição do ensino presencial para o remoto", destacou a afirmar que entre as ações realizadas estavam rodas de conversas, lives, vídeos, colóquio e seminário.
Pela Udesc, o pró-reitor Mayco Morais apresentou as atividades de extensão que a universidade tem realizado neste período de pandemia, com destaque para a manutenção das 400 bolsas de extensão disponíveis na Instituição. Segundo o professor, das 900 ações previstas para esse ano, apenas três foram canceladas devido a pandemia.
A última apresentação da Câmara de Extensão foi realizada pelo pró-reitor da UPE, Luiz Rodrigues. Ele explicou que neste momento de pandemia foi necessária a reinvenção da extensão e destacou como a UPE tem enfrentado o desafio. A Universidade possui mais ou menos 400 projetos de extensão com ações ligadas à formação, produção de conhecimento de interesse público e canais para se chegar às comunidades externas.
Internacionalização
A segunda palestra da tarde, organizada pela Câmara de Internacionalização e Mobilidade da Abruem, foi "A internacionalização em tempos de pandemia: boas práticas e desafios". De acordo com a reitora da Uenp e presidente da Câmara, Fátima Aparecida Padoan, falar de internacionalização em um cenário de redução de mobilidade é um grande desafio. "Desde o início da pandemia temos discutido muito sobre como dar conta da mobilidade e fazer com que a internacionalização aconteça neste período [...] O que nos alegra é perceber que conseguimos superar esse desafio, claro que com algumas perdas ", explica.
Neste mesmo sentido, a secretária da Câmara, professora Eliane Segati, relatou que, frente à pandemia, a internacionalização se viu em um momento de ressignificação, com diversos desafios pela frente, entre eles o restabelecimento dos objetivos e condições dos MOUs já em vigor e como seria a mobilidade acadêmica e docente, se presencial, virtual ou híbrida. Outro desafio enfrentado e superado também foi o restabelecimento de redes para ações de parcerias para pesquisa e extensão.
Dentro das propostas e encaminhamentos definidos pela Câmara, está a possibilidade do lançamento de um edital de mobilidade internacional em rede, do aumento das parcerias com outras associações de universidades internacionais para colaboração virtual em rede, da realização de open houses para o desenvolvimento e fortalecimento de parcerias internacionais e de uma parceria entre Abruem e FAUBAI.
Eliane Segati ainda informou a todos a respeito de um edital que o Conselho Britânico lançará em parceria com o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) que inclui políticas de internacionalização e políticas linguísticas. Na próxima reunião administrativa da Abruem haverá a participação de membro do Conselho Britânico para explanar detalhes do edital.
Experiências
Ainda dentro das atividade da Câmara de Internacionalização e Mobilidade, o professor da UPE, Karl Schrster, discorreu sobre a experiência da Universidade com a internacionalização neste momento de pandemia, seus avanços e desafios.
"Uma das grandes modificações que vivemos a princípio tem a ver com a questão de mobilidade", revela o professor ao explicar que todos os processos de mobilidade precisaram ser cancelados. Ele relata que um grande desafio foi pensar em formas de se fazer essa mobilidade com ensino virtual, tendo em vista que a maioria dos alunos buscavam a experiência prática.
Em sua fala, o professor ainda destaca a necessidade das universidades cobrarem dos consulados um apoio mais efetivo em situações como essa da pandemia. "Muitos alunos que já estavam na universidade tiveram os prazos de validade de suas bolsas vencidos, mas, por conta da pandemia, seus voos foram cancelados e não tínhamos um aparato legal para ajudá-los", explica.
A professora da Uerj, Cristina Russi, também relatou as experiências da Universidade neste contexto de pandemia e explicou que muitos alunos que estavam no exterior optaram por permanecer e que todos os alunos estrangeiros conseguiram retornar para seus países. "Conseguimos dar assistência, mesmo remota, a todos os alunos", enfatizou.
Saúde e Hospitais Universitários
Finalizando o Seminário da Abruem, a palestra "Transformação da saúde pública através da inovação" discorreu sobre como a medicina tem se adaptado às novas tecnologias, sobretudo neste contexto de pandemia em que os processos foram acelerados. Como palestrantes, participaram o professor da Universidade de São Paulo, Chao Lun Wen, e a professora da Universidade Estadual de Londrina, Daniela Alfieri.
A palestra, de responsabilidade da Câmara de Saúde e Hospitais Universitários, foi iniciada pelo presidente da Câmara, professor Miguel Sanches Neto, que discorreu sobre os trabalhos realizados em 2020 e os principais desafios dos hospitais universitários perante a pandemia.
"Foi um processo que nos desgastou bastante, mas nos deu um suporte, uma ferramenta dentro da esfera política que eu não tinha visto nestes 27 anos de serviço público, um empoderamento das universidades públicas, apesar das duras críticas que sofremos no passado e continuamos a sofrer", ressalta.
Transformações por meio da inovação
Para a professora Daniela Frizon a inovação em saúde passa por encontrar novas formas de trabalhar, prestar serviços ou adotar tecnologias, sempre com o objetivo de melhorar a qualidade do sistema de saúde, ao mesmo tempo que se reduzem os desperdícios e os custos.
Ela explica que o ecossistema de saúde já está mudando no Brasil e destaca como as plataformas de apoio à decisão clínica podem contribuir com a cultura de inovação. Neste sentido, Daniela Frizon afirma que elas podem melhorar as decisões e ações dos médicos, com conhecimento clínico organizado (baseado em evidências) e informações pertinentes sobre o paciente para melhorar a saúde e a prestação de cuidados de saúde.
A professora ainda explana sobre internet das coisas médicas e inteligência artificial utilizadas no sentido de reduzir gargalos de atendimentos. "A inovação nesta área deve ir desde a atenção primária, no sentido de se trabalhar a prevenção, até a terciária", enfatiza ao defender que investir em inovação em saúde otimiza processos, aumenta a produtividade das equipes, melhora a relação com pacientes, reduz custos e aumenta rentabilidade.
Segundo dados da Demografia Médica de 2018, 60% dos médicos brasileiros estão em 39 cidades com mais de 500 mil habitantes, o que acaba por colaborar com as desigualdades de distribuição e problemas na assistência. Os dados apresentados pela professora ainda mostram que a média de deslocamento do brasileiro na busca de serviços de saúde de baixa complexidade é de 72 km e esse número sobe para 155 km quando se leva em consideração serviços de alta complexidade.
A professora ainda falou sobre telemedicina e como garantir a adesão da população a esse tipo de serviço que só foi regulamentado no País graças à pandemia da covid-19.
Aceleração digital
Para o professor da USP, Chao Lung Wen, discutir inovações na saúde é um tema interessante, tendo em vista que não estamos mais na década da transformação digital, mas na década da aceleração digital. De acordo com ele essa é a era dos 4 hipers: hiper conectividade, hiper realidade, hiper presença e hiper inteligência.
Segundo o professor, a questão da saúde digital só terá aceitação e uma maior penetração quando existir uma educação massiva no sentido de se incluir na formação de novos profissionais a telemedicina e teletecnologias. "A educação tem que se transformar e acompanhar os quatro hipers. Estamos evoluindo para várias coisas na área da medicina e temos que ensinar nossos estudantes a repensarem o cenário de um mundo em mutação constante".
Chao Lung Wen afirma que estamos na década da longevidade e que a saúde tem que ser modificada para não só tratar doenças, mas trabalhar qualidade de vida e diminuição de riscos de doenças. "O ajuste da formação dos profissionais de saúde deverá seguir essa linha e a saúde conectada é a próxima fase", relata.
De acordo com ele, estamos em um borbulhar grande e precisamos definir como a educação irá acompanhar as mudanças e como poderemos prover uma educação muito mais completa. "Temos que fortalecer essa transformação de professores para educar esse novos profissionais. Outros fatores importantes são ética, responsabilidade e segurança digital na formação médica. Temos que trabalhar em uma sincronia para a educação, usando tecnologia e os avanços na saúde. Sem isso, não haverá uma tecnologia saudável".
O professor ainda elenca nove aspectos mínimos que os novos profissionais de saúde formados pelas universidades devem apresentar:
1- saber observar e associar ideias
2- saber formular boas perguntas - curiosidade
3- ter opiniões relevantes
4 - saber sintetizar e reconhecer aspectos significativos
5 - saber pesquisar e avaliar informações
6 - saber trabalhar em equipe
7 - identificar problemas e elaborar soluções
8 - habilidade de se comunicar
9 - ter iniciativa e empreendedorismo
"A transformação ocorre dentro do ambiente da educação e não apenas no profissional e com essas habilidades os alunos poderão usar muito bem as novas tecnologias para melhorar a saúde da população", frisou.