A Associação nasceu com a intenção de debater melhorias para as universidades e unir forças em benefício do ensino superior e hoje representa 47 instituições de ensino
Referência de união e parceria em benefício do ensino superior de qualidade, a Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (Abruem) completa 30 anos de história. Ao todo, já foram realizados pela Associação 65 encontros, Fóruns Nacionais de Reitores da Abruem, com o objetivo de gerar debate e a troca de experiências e levantar oportunidades de fortalecimento das universidades, garantindo um ensino, pesquisa e extensão positivamente reconhecidos nacionalmente.
Neste texto, a história da Associação é contada pela voz de quem já passou por ela e deixou seu legado – seus ex-presidentes e vice-presidentes. A Abruem nasceu em 1991, como desdobramento do XII Fórum de Reitores das Universidades Estaduais e Municipais Brasileiras, realizado na cidade de Maringá, Paraná. Na época, os Fóruns já reuniam reitores para discussão de projetos e desafios de suas regiões e, neste encontro, foi aprovado o Estatuto da Associação que a define como uma entidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, com sede na Capital da República.
O Fórum de Reitores foi constituído em meados dos anos 1980 e teve três presidentes: Cláudio Régis de Lima Quixadá (que presidiu o Fórum de 1988 a 1990), Jorge Bounassar Filho (1988-1990) e Yara Maria Cunha (1990-1991), primeira mulher a ocupar o posto. Foi no ano de 1991 que o professor Itan Pereira da Silva, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), assumiu a primeira cadeira de presidente da Associação.
Décio Sperandio foi reitor da Universidade Estadual de Maringá (UEM) quando a Abruem foi criada e se lembra bem desta época. O Fórum de Reitores já trazia tantos resultados positivos que os membros optaram por estruturar uma associação que agregasse ainda mais valor ao segmento e tivesse condições de desempenhar uma atividade mais robusta, trazendo benefícios para as instituições espalhadas em todo o País.
Ele assumiu a vice-presidência da Abruem, encabeçada pelo professor Itan Pereira da Silva. ‘‘Na época, participávamos do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub) e, dentro do Fórum de Reitores, entendemos que seria importante criarmos nossa associação de reitores de universidades estaduais e municipais. A Abruem já nasceu forte. Nós nos reuníamos para tratar de causas comuns, mas optamos pela Associação para que tivéssemos uma entidade estruturada, representativa do segmento das estaduais e das municipais. Desta forma, as reivindicações não se faziam de maneira solitária, alcançando uma visibilidade maior.’’
Manassés Claudino Fonteles, quando exerceu os cargos de presidente e vice-presidente da Associação, entre os anos de 1997 e 2002, contribuiu para trazer um dinamismo maior aos sistemas estaduais e municipais. ‘’Até então, nossas Associações eram muito frágeis, enquanto o maior reconhecimento pelo Ministério da Educação era somente para o sistema federal de ensino, sendo destinado muito pouco para a Abruem. A rotatividade das reuniões para vários estabelecimentos de norte a sul, em diferentes estados, acelerou os primeiros impulsos desenvolvimentistas e nos proporcionou mais visibilidade junto às agências e órgãos de financiamento. Isso contribuiu igualmente para o investimento dos governos estaduais, que começaram a criação de agências locais de apoio à pesquisa.’’
O professor reconhece que o grupo propiciou trocas de experiências exitosas entre realidades diversas. ‘’Isso levou a um maior intercâmbio no nível de ciência e cultura e ao grande aumento das publicações destas unidades acadêmicas, que continuou a crescer. Várias universidades têm cursos de excelência acadêmica reconhecidos. Certamente, esta união contribuiu para este grande impulso de qualificação’’, diz Manassés.
Ampliação da Integração Universitária
De 2013 a 2014 foi a vez do professor Carlos Fernando de Araújo Calado, da Universidade de Pernambuco (UPE), presidir a Abruem. Ele comenta que, junto aos colegas, ajudou a construir os fóruns de debates e o calendário de reuniões semestrais, considerando-se os encontros de reitores e também de pró-reitores, o que ampliou ainda mais a integração universitária.
‘‘A ideia era que pudéssemos reunir os pró-reitores para que participassem de um colegiado, trazendo maior riqueza de discussão e de abertura de agenda. Por conta disso, a gente abriu uma agenda de parceria e intercâmbio entre estudantes, não só para fora do País como entre nossas universidades, fortalecendo o conhecimento e a troca de culturas.’’ Segundo ele, por mais que as universidades tenham seus meios de trocas de informações e parcerias, a Associação é uma forma de congregar e ampliar essa visão entre os pares. ‘‘São sempre muito ricos nossos fóruns.’’
Para além da relação docente-discente, Calado ressalta que as pautas levantadas são efetivas também no que se refere ao colegiado de servidores técnico-administrativos, que dão suporte às atividades acadêmicas. ‘‘É na academia, também, que se pode realizar atividades que fortaleçam a educação como um todo, tendo em vista que, ao chegar ao ensino superior, os estudantes vieram de um ensino básico diverso, que pode ser apoiado. Às vezes a gente pensa que a universidade dialoga com a comunidade através da extensão, apenas, mas tem também o diálogo e fortalecimento”, destaca.
Ele ainda afirma que o conjunto das universidades precisa não só cumprir o ensino, pesquisa, extensão, no sentido de produzir conhecimento, mas fortalecer a contribuição que as instituições de ensino superior podem dar à educação. “Já fazemos isso nos cursos de licenciatura, mas isso só não é suficiente. Podemos usar toda a estrutura da universidade para fazer com que a comunidade desfrute do câmpus. A gente tem que formar cidadãos que tenham a real sensibilidade de que o desfio é maior. A mãe de todas inclusões é a educação’’, acredita.
Normatização
Jackson Proença Testa, presidente de 1996 a 1998, destaca outro aspecto importante da Abruem: o de uniformizar as regras relativas a atuação das estaduais e municipais. ‘‘As universidades federais eram normatizadas pela legislação federal, com quadro de carreira e regime de trabalho únicos, por exemplo. Já as universidades estaduais e municipais tinham normas e legislações diferentes, variando de estado pra estado. Neste ponto, a Abruem passou a trabalhar e sistematizar as instituições de ensino superior estaduais e seus quadros de carreiras.’’
Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro, à época reitora da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), foi a primeira mulher a presidir a Abruem, desempenhando a função de 2014 a 2016. Na sua visão, a Associação contribui com o trabalho das universidades no sentido de promover a integração e compartilhamento de experiências entre as associadas e elaborando ações e agendas conjuntas com efeito sinergético sobre o fazer universitário. ‘‘A Abruem, ao longo de 30 anos de existência, contribui com a consolidação e qualificação dos sistemas estaduais de educação superior, fortalecimento da pesquisa, com destaque para o papel da interiorização e capilaridade. Um grande orgulho e aprendizado fazer parte desta história!’’, celebra.
Já o professor João Carlos Gomes, presidente da Abruem por duas vezes (de 2008 a 2010 e de 2012 a 2013), destaca que, ao longo dos anos, a entidade sempre esteve à frente nas discussões dos assuntos de interesse das universidades estaduais e municipais, principalmente nas discussões junto aos Ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação. ‘‘É uma Associação que discute os principais temas da educação superior e suas consequências no dia a dia de nossas instituições. Em vários momentos nestas três décadas, a Abruem se fez e se faz representar em comissões e em pautas no Congresso defendendo os legítimos interesses das universidades estaduais e municipais brasileiras, sempre demonstrando a papel de nossas instituições, principalmente na interiorização do ensino superior público e de qualidade no nosso País”.
João Carlos Gomes destaca que uma das características da Abruem sempre foi em discutir temas nas áreas do ensino, da pesquisa, da extensão e da gestão nas universidades, contribuindo em muito com a troca de experiências entre as universidades. Segundo ele, dessa forma, a Associação acaba por oportunizar que experiências e programas bem-sucedidos em uma ou mais instituições pudessem servir de modelos para outras instituições.
‘‘Isso faz com que os bons programas sejam de conhecimento de todas as nossas instituições e tenham ampla possibilidade de aplicação em outras unidades, tendo em vista as características muito próximas de nossas universidades estaduais e municipais, já que são instituições inseridas no interior dos estados com importante ações no desenvolvimento da região geo-educacional onde estão inseridas”, explica. Ele ressalta que outra grande importância das universidades que compõe a Abruem são as atividades extensionistas, características que estão no DNA delas. “Enfim, as universidades estaduais e municipais sempre tiveram um papel muito importante para o desenvolvimento das regiões que estão inseridas”, relata.
De 2010 a 2012, o professor Antônio Joaquim Bastos da Silva presidiu a Abruem e, na sua visão, a Associação oportuniza às universidades de menor porte o acesso às grandes decisões da educação universitária brasileira, promovendo a integração e fazendo de forma eficiente a internacionalização de seus afiliados, com assinatura de convênios em diversas áreas do ensino, pesquisa e extensão. Sobre a Associação ele destaca: ‘‘a sua participação no Ministério da Educação, com a reforma da educação superior, representa um marco de sua importância no cenário nacional. Devido à interlocução com ministérios, conseguiu a aprovação de novos cursos e, sobretudo, o aumento no número de bolsas’’, destaca.
Estrutura
Na prática, a Abruem tem sido um espaço de encontro e discussão em que os reitores de 47 universidades públicas brasileiras filiadas – distribuídas em 22 estados e com aproximadamente 700 mil alunos regularmente matriculados – troquem informações, discutam e aprofundem temas prioritários da agenda do Ensino Superior e decidam sobre ações de interesse comum. Além disso, compete-lhe, ainda, dar suporte à implementação dessas decisões, quando necessário, junto às autoridades competentes do governo e do setor privado.
A Abruem é um dos segmentos característicos das Instituições de Ensino Superior em nosso País e sua Presidência é assumida por um dos reitores das universidades que lhe são filiadas, eleito pelos pares para um mandato de dois anos, valendo esta norma para a eleição também do vice-presidente.
A entidade conta, ainda, para o exercício de suas funções, com o Conselho Pleno, que é sua principal instância decisória; com o Conselho Deliberativo; com o Conselho Fiscal; e com uma Secretaria Executiva.Atualmente, a Associação é presidida pelo reitor da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Rodrigo Zanin, e tem como vice-presidente o reitor da Universidade de Pernambuco (UPE), Pedro Falcão.
Após 27 anos de sua criação, em agosto de 2018, a Abruem adquiriu sua sede própria durante a gestão do professor Aldo Nelson Bona, presidente da Abruem de 2016 a 2018, reitor da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná – Unicentro. Localizada em Brasília (DF), a sede está à disposição das suas instituições filiadas, que contam com o apoio administrativo e uma sala para reuniões que comporta até 25 pessoas. A sede própria registrou uma nova fase da Associação, de independência e melhor atendimento às suas associadas.
A Abruem conta hoje com câmaras específicas de atuação, já idealizadas na época de sua criação, com o objetivo de discutir e elaborar projetos voltados para o sistema, como um todo. São elas as Câmaras de Graduação; Pós-Graduação; Extensão; Internacionalização e Mobilidade; EAD/UAB; Saúde e Hospitais de Ensino; e Gestão, Governança e Legislação.
Abrangência
Atualmente, as universidades estaduais e municipais englobam 40% das vagas de ensino superior públicas no Brasil. A Abruem conta com representantes de 22 estados. Isso demonstra a capilaridade das estaduais e municipais, que não se limitam à atuação na capital, mas são interiorizadas, proporcionando oportunidades regionalizadas. ‘‘Temos universidades muito bem ranqueadas, que atendem aos indicadores educacionais e a criação da Associação propiciou uma troca de experiência entre elas. Muitas vezes trabalhamos em projetos na forma de rede - uma ação implementada em determinada área, numa troca de experiência, pode ser expandida para outra universidade’’, comenta Décio Sperandio.
Como forma de debater as atividades que estão sendo realizadas, pautas importantes nos cenários estaduais e municipais, troca de experiência, entre outros, todos os meses os reitores das IES filiadas à Abruem se reúnem. As reuniões mensais ordinárias permitem que haja uma cooperação entre as universidades, criando projetos conjuntos como os editais de mobilidade estudantil, tanto presenciais quanto na modalidade a distância, ou mesmo os acordos de cooperação internacional.
As reuniões mensais tradicionalmente foram sempre realizadas em Brasília, no entanto, com a pandemia de covid-19, elas passaram a acontecer de forma online, via plataforma Google Meet. A reunião do mês de setembro de 2021 foi a primeira a ocorrer de forma híbrida, com alguns reitores reunidos na sede da Abruem e outros participando de forma online.
Internacionalização
Tradicionalmente, a Associação realiza todos os anos uma missão internacional. No ano anterior, os reitores definem qual será o destino e a viagem começa a ser organizada. Devido também à pandemia do novo coronavírus as viagens internacionais de 2020 e 2021 não puderam ser realizadas, no entanto já foram iniciadas as tratativas para a viagem de 2022, que será para o México.
Além disso, as universidades filiadas também recebem em suas sedes comitivas de universidades estrangeiras para tratar de parcerias, intercâmbios ou troca de experiências. Tanto as missões internacionais quantos essas visitas resultaram em diversos acordos de cooperação técnico-científica. ‘‘Nas oportunidades, apresentávamos as universidades e a Associação e conhecíamos o trabalho de outras instituições. A partir dali, eram realizadas, inclusive, parcerias para intercâmbios estudantis’’, relembra Décio Sperandio.
Carlos Calado, que chegou a coordenar a Câmara Técnica de Internacionalização e Mobilidade, reforça que a Abruem é um local onde são abertas agendas de discussão. ‘‘É uma forma de fortalecer a representatividade dos sistemas de universidades junto ao governo e legislativo, no sentido de garantir a defesa de recursos. Não é um fórum político, mas tem um papel de juntar o conjunto das universidades para defesa de pautas comuns. A fala da Abruem é a fala de um conjunto, não de uma só universidade’’.
A Abruem já visitou a China em 2006, o Chile em 2007 e a Itália em 2009. Em 2010 foram realizadas duas missões internacionais, uma à Cuba e outra à Espanha e, na sequência, em 2011, uma para Portugal. Em 2012 a missão visitou dois países, Bélgica e Alemanha, e em 2013 foi a vez da visita à Coréia do Sul. Em 2014, 2015, 2016 e 2017 as comitivas da Associação conheceram instituições de ensino superior da França, do Canadá, do Reino Unido e da Austrália, respectivamente. A Hungria foi o destino da comitiva de 2019 e o Chile da de 2020.
Conheça a galeria de presidentes | Clique aqui